"O CORDELISTA PRESO"
A literatura de cordel, como sabemos, tem o que podemos chamar de uma “salada de rimas”. Isso deixa a leitura rica, prazerosa e suave para ler. Leandro Gomes de Barros, um dos pioneiros dessa arte, sabia muito bem como fazer essas misturas. Sua versatilidade é incrível, tanta que grande parte dos seus cordéis continua sendo impressa até hoje. Leandro, além de ser versátil nas rimas, também abordava vários temas. Quem conhece a sua obra, com certeza já leu: O cachorro dos mortos, Os sofrimentos de Alzira, Alonso e Marina, A donzela Teodora, O cavalo que defecava dinheiro e tantos outros.
Nos dias atuais, percebemos que alguns cordelistas vivem presos. Mas presos de duas formas, primeiro às rimas fáceis e repetitivas como ÃO, a maioria delas se limitam a sabão, verão, não, vão, estão, irmão, e por aí vai. Quando mudam, acabam se agarrando nos verbos como: fazer, dizer, ver, morrer... ou ainda: falar, pronunciar, passar, calar... tendo também: estou, vou, falou, mergulhou e assim segue.
Exemplo:
Num dia de sexta-feira
Ouviu uma voz perguntar
-Quer passar bem em moço
Ou quando velho ficar
Quando foi no outro dia
A voz tornou a falar.
Ele chamou a mulher
Pegou então a contar
-,Há três noites desta parte
Ouço uma voz perguntar
Se quero passar bem em moço
Ou quando velho ficar.
Então lhe disse a mulher
-Tenho um conselho pra dar
Queira padecer em moço,
Antes de velho ficar-
Você, enquanto for moço
Tem força pra trabalhar.
Cordel: O Capitão do Navio (Silvino Pirauá)
O cordelista precisa se arriscar mais nas rimas, porém muitos vivem presos a elas. Isso não significa que ter uma ou outra estrofe com esse tipo de rima seja um problema ou defeito. O problema é se agarrar a elas com unhas e dentes, como se fossem as únicas, deixando tantas outras de lado.
Outra prisão que vejo é o cordelista ter toda a sua obra destinada a falar sofre o sertão, a fome, a seca e a miséria como se o cordel se limitasse a apenas isso, tanto que o leitor mal informado, quando é indagado sobre o que é cordel, logo responde que são aqueles “livrinhos falando sobre a seca do sertão”. Mais uma vez explico: não são proibidos esses temas, a questão quando o autor fica preso a eles, dando a impressão ao leitor que não existem outros. Por isso, convido os amigos cordelistas a conhecerem o quanto é ampla e variada a temática abordada na literatura de cordel, principalmente nos cordéis clássicos.
Gostaria que deixasse nos comentários a sua opinião a respeito da importância da versatilidade de rimas e de temas na literatura de cordel.






