terça-feira, 16 de setembro de 2025

CADÊ OS CORDÉIS DE CUÍCA?

 



  Cadê os cordéis Dele, o Tal Cuíca de Santo Amaro? (José Gomes 1907/1964)

  O leitor assíduo da literatura de cordel tem se deparado com muitos cordelistas baianos através dos cordéis escritos por Minelvino Francisco Silva, Antônio Teodoro dos Santos, Antônio Alves, João Damasceno Nobre, entre outros; até mesmo Rodolfo Coelho Cavalcante, que nasceu em Alagoas e viveu na Bahia, onde construiu linda trajetória. Mas, onde estão os cordéis Dele, o Tal Cuíca de Santo Amaro? Logo ele, que nasceu na Bahia e fez história, chegando a ser uma das personagens imortais nos livros de Jorge Amado, um dos escritores mais famosos da literatura brasileira.

 Para quem não sabe, no passado houve o cordel jornalístico e as folhas volantes. Esses serviam como o jornal da época, devido à falta do rádio e da televisão em vários cantos do sertão. O cordel, então, assumiu o papel de veículo de comunicação, principalmente entre os sertanejos. Cuíca usou e abusou deste recurso de comunicação, tanto que publicava vários cordéis (cerca de três por semana) como confirmou Edilene Matos em seu livro "Ele o Tal Cuíca de Santo Amaro", denunciando ou até se valendo deste recurso para subtrair valores de pessoas envolvidas em diversos escândalos, como padres, políticos e pessoas influentes na capital baiana ou cidades metropolitanas. Vale lembrar que Cuíca, por essa razão, acabou sendo temido e odiado por muitos que tinham rabo preso, utilizando-se do elevador Lacerda como palco principal para a comercialização dos seus folhetos.

 Cuíca tinha consciência do poder do cordel como meio de comunicação, porém pouco se interessou pela métrica e outros requisitos básicos que fazem parte da construção dos cordéis. Isso é facilmente observado em seus textos que tinham outros focos como a notícia ou a fofoca de bastidores. Cuíca escreveu centenas de folhetos, até participou do primeiro Congresso Nacional de Trovadores na capital baiana em 1955, organizado por Rodolfo Coelho Cavalcante.

 Ele foi, sem sombra de dúvida, um autor marcante no cordel baiano, mas, por onde andaria todo esse seu acervo? Foi sepultado com ele? As pessoas ainda têm algum interesse em ler seus cordéis? Em nossos registros, seu último texto reeditado foi na Nova Antologia de Cordelistas Baianos, livro contemplado pela lei Aldir Blanc Bahia e organizado por Zeca Pereira e Cléber Eduão no ano de 2020. No mais, por onde andam os seus cordéis? 

 Hoje vemos cordelistas declarados que são fãs de Cuíca, mas, será que eles possuem obras impressas desse poeta ou só as lembranças de como ele foi? Pelo que tenho visto, as obras de Cuíca não são tão conhecidas quanto o seu nome. Será que, sem os créditos de Jorge Amado, o seu nome teria sobrevivido ao tempo? Será que sua obra algum dia vai circular nas mãos dos novos leitores como os cordéis escritos por Minelvino Francisco Silva, Antônio Teodoro dos Santos, João Damasceno Nobre, Antônio Alves e tantos outros?

 Agora aqui fica a pergunta: quantos cordéis de Cuíca você já leu publicados por alguma editora da atualidade? 

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1 comentário:

  1. Realmente é um assunto polémico, que se analizado pela sua ótica mais apurada e no contexto do purismo da obra Cordelista de Cuíca de Santo Amaro, certamente não tem comparação com os clássicos, não obstante não podemos deixar de reconhecer sua importância histórica, dentro do contexto da Bahia da época e sua importância pode ser comprovada, talvez não pela produção de sua obra literária, mas muito mais pelo personagem polêmico e carismático que ele criou e tal foi sua importância, que apareceu em quatro romances de Jorge Amado e um de Dias Gomes e salvo qualquer engano, ainda hoje e representado, como vi na FriLauro e vejo ser ressuscitado em seu blog. Se não fosse importante, já teria sido esquecido. "Falem mal, mas falem de mim"

    Jessé Ojuara

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