Há anos venho presenciando o surgimento de muitos cordelistas no Brasil, alguns deles chamados pelos veteranos de “cordelistas genéricos”. Qual seria a razão para tal nome? Segundo aqueles que estão na estrada do cordel há um bom tempo, esses poetas têm caído de paraquedas no mundo cordelístico. Desconhecem os grandes clássicos e não fazem a mínima ideia de quem são seus autores. Nunca leram e não têm o mínimo interesse em saber quem fez história e deixou o seu nome imortalizado na literatura de cordel, a exemplo de Leandro Gomes de Barros, Delarme Monteiro, Minelvino Francisco Silva, Antônio Teodoro dos Santos, Enéias Tavares, Rodolfo Coelho Cavalcante, José Camelo de Melo Rezende e tantos outros.
Tal comportamento só pode me trazer uma pergunta: "Ora, como pode alguém se enveredar por uma arte sem antes estudar suas regras, obras imortalizadas e seus principais fazedores?” Numa comparação mais prática: seria possível que algum jogador de futebol amador pudesse tornar-se um grande profissional deste esporte sem conhecer um pouco da sua história e suas regras básicas, além de poder inspirar-se nas verdadeiras lendas que já passaram por ele e que permanecem vivas na memória dos amantes deste esporte?
Estes mesmos cordelistas genéricos têm apresentado trabalhos resumidos, uma boa parte concentrada em um número pouco reduzido de estrofes e, como se não bastasse, apresentando diversas fragilidades, tais como: atropelos em rima, versos de pé quebrado e orações de entendimento sofrível, demonstrando grande ou total desconhecimento dos fundamentos que envolvem as três unidades básicas da literatura de cordel.
Muitos deles invadem as redes sociais quase sempre com indumentárias que lembram o estereótipo do nordestino sofredor, mas que se orgulha da sua terra natal, conseguindo, dessa forma, causar uma certa identificação com os seguidores, chamando mais a atenção para obter maior engajamento para seus vídeos nas redes sociais.
Por incrível que pareça, muitos desses genéricos têm a audácia de ministrar oficinas de literatura de cordel sem o mínimo conhecimento técnico para isso, o que resulta em um desserviço para o gênero, pois costumam passar desinformações como a de que o verdadeiro cordel precisa ter capa com xilogravura e que sem ela não pode existir cordel entre tantas outras.
Os seus cordéis impressos, na maioria das vezes com 8 páginas, chegam a possuir uma estrofe por página e a desculpa é sempre a mesma " Ah, o povo não gosta de ler cordel longo". No entanto, eles falam isso por desconhecer os verdadeiros clássicos da literatura de cordel com mais de 300 estrofes espalhadas em inúmeras páginas como é o caso dos cordéis “João Acaba-Mundo e a Serpente Negra”; “O papagaio misterioso e os Sofrimentos de Jobão”; “Os Cabras de Lampião”; “Vida e Testamento de Cancão de Fogo”, entre tantos outros, todos eles obras que vêm sendo reeditadas por mais de 70 anos e ainda encontram leitores dispostos a dedicar um bom tempo à sua leitura. Estes mesmos cordelistas preferem o isolamento dos demais autores para não ouvir algumas verdades de quem preza pelo cordel e que já possui um bom conhecimento de suas técnicas e de sua história.
Para que não pairem dúvidas: não é demérito usar as redes sociais para divulgação de seu trabalho. Vale lembrar que temos também bons cordelistas com seus trabalhos divulgados por lá, a exemplo de Vital do Cordel, que tem feito um ótimo trabalho, que traz orgulho a seus pares e que de fato representa os bons cordelistas.
Para encerrar, a pergunta que fica é a seguinte: “Quem não lê e não conhece bons cordéis consegue ser um bom cordelista?”